quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cantigas de Ninar, mas nem tanto...

Apois. Há algum tempo que venho querendo discorrer sobre esse tema. Mesmo em conversa com pessoas do meu círculo de amizades eu comento sobre o assunto. O foco aqui é mostrar como o domínio pelo medo chega ao homem e a sua evolução ao longo da vida. Um assunto que daria uma discussão acalorada envolveria religião, mas, eu como ex-católico e atualmente porranenhuma, evito tocar no assunto bíblia, pois a vejo com instrumento de dominação pelo medo. Medo da morte, medo de não conseguir ir pro firmamento, medo do sofrimento, enfim, medo. Como já falei anteriormente, não vou entrar no mérito dessa questão.
O que abordarei hoje é simples e conhecido por todos, as Cantigas de Ninar. Aposto que muita gente simplesmente canta essa canções embalando crianças inocentes e outras nem tanto assim. Recentemente, no meu atual relacionamento, a minha inocente namorada, por telefone, resolveu cantar uma cantiga de ninar, e eis que o que surge pelo outro lado da linha, em voz melodiosa, cantando o tenebroso “Boi da Cara Preta”. Risadas à parte, eu comentei que com uma canção como essa, ao invés de dormir eu iria chorar. Prestemos atenção ao que diz a letra: Boi, boi, boi/ boi da cara preta/ pega esse menino que tem medo de careta. Gente isso é horripilante, uma criança, ao nascer, não tem medo de nada, porque nada conhece, então começamos desde já a incutirmos em suas cabecinhas o medo como parceiro pelo resto da vida. O boi passa a ser uma monstro, tem a cara preta, o que já envolve um outro tema polêmico que é o preconceito, depois ainda vem que o boi é um perseguidor implacável à crianças que tem medo de careta, ou seja, quem aqui não tem medo de caretas? Elas são produzidas justamente pra assustar.
Bem, conversa ao telefone sempre se alonga, claro, então passamos a analisar outras cantigas de ninar, fomos pro Nana Nenê. Outra canção ao menos assustadora, pense numa babá muito ruim, ela coloca a criança no colo e aí começa a tortura: Nana nenê/Que a cuca vem pegar/ papai foi pra roça/mamãe foi trabalhar. Veja que aqui a coisa piora muito mais do que o tal boi analisado acima. A criança tem uma cuca no seu encalço, caso ela não feche os olhos e apague, o pior é que ainda por cima, tá abandonada à própria sorte, pois os pais deram o fora, cada um pro seu canto. Terrível, mas verídico. Não quero nem citar aqui o tal Sapo Cururu, pois a rima é nefasta, então pularei pro coitado do Samba Lelê: Samba Lelê tá doente/Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ Era de umas boas palmadas/ Samba, samba, samba Lelê. Uma verdadeira sessão de tortura com o coitado do Lelê. O coitado já está provavelmente em coma, pois não consigo visualizar uma pessoa com a cabeça quebrada que não esteja em coma profundo, um miserável ainda acha que Lelê merece palmadas, ou seja, vamos espancar o sujeito, e ainda se pede que ele sambe. Pessoas, você conseguem conceber alguém que está com a cabeça quebrada, vc dá uma surra, e essa pessoa ainda consiga sambar?
Claro que a ironia esteve presente no texto inteiro e eu, apesar de não ser um amante de crianças, quis aqui chegar no ponto inicial da dominação pelo medo que vem se perpetuando há milênios, a ponto de acreditarmos em messias e salvadores do mundo que sempre acabam mortos, dependurado numa cruz, e glorioso subindo aos céus.
Não seria melhor ensinarmos cantiga de sacanagem para as nossas nem sempre inocentes crianças? Sacanagem elas vão aprender do mesmo jeito quando crescerem, umas vão gostar outras nem tanto. Se eu fosse um pai, filho meu só ouviria música de sacanagem. É triste, mais é verdade.

2 comentários:

  1. Excelente reflexão sobre as cantigas de ninar que embalaram gerações e gerações de crianças ao redor do mundo, diria mesmo profunda a relacão com a questões do medo, muitas vezes inexplicável, como parceiro de uma vida inteira, sim pq levamos para todas as nossas relações as impressões primeiras que assimilamos. Se essa visão for positiva, estaremos diante de um homem provavelmente de bem com a vida que saberá se relacionar construtivamente com todas as coisas.
    Mas preciso discordar do que foi falado sobre a Biblia como instrumento de dominação. Muito longe disso a biblia tem se revelado como "manual do fabricante" , como diz uma canção muito especial "como um farol que brilha no escuro, como pontes sobre aguas, como abrigo no deserto,como flecha que acerta o alvo" enfim um norte a seguir, é assim que a biblia deve ser entendida. Infelismente devo admitir que esse livro que atrevessou séculos orientando para o bem, tb foi e continua sendo usado por pessoas mal intencionadas que a usam sim como instrumento de manipulação. O erro não esta na biblia, mas na falta de conhecimento dela. A Palavra do Senhor nos adverte "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" João 8:32 então posso concluir que a ignorancia é que escraviza as pessoas que as deixam a mercê da dominação e não a biblia. Numa comparação banal, poderia dizer que não podemos culpar um remédio pelo mal uso dele, não é mesmo?
    Enfim, o fato de discordar dessa parte do texto não o deixa menos lindo, válido, pertinente, atemporal, divertido sem deixar de ser sério, e sério sem ser pretencioso, talvez por isso o autor tenha pretendido concluir de forma a nos levar a pensar que é descomprometido com o tema, o que seguramente não deve ser verdade, propondo o extremo oposto igualmente danoso as crianças que são esses outros tipos de canções. Pq simplismente não propor o simples, o que as crianças merecem ter, o lúdico, o puro, a inocência enfim de uma canção que fale de outros companheiros para se ter na vida como o amor, a alegria, a compaixão, a segurança, os limites pq afinal, citando Içami Tiba; quem ama, educa" e educar é dar o nosso melhor, é ser excelente na magnifica tarefa de formar o caráter de um ser humana para as gerações seguintes e isso só se faz com compromisso e muito amor.
    Tereza Badaró

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  2. Sem tirar nem por uma palavra concordo com vc, pior que os talibãs e os homens bomba do oriente médio só mesmo esse terrorismo psicológico das canções de ninar!

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